Sinto decepcionar,
mas o Deus que creio não é bipolar. Não nos oferece vida, amor e perdão nos
nossos poucos anos aqui na terra para depois, quando morrermos, nos
condenar eternamente à dor, castigos, aflições e agonias. Não pode ser
compassivo e cuidadoso e, num piscar de olhos, ser cruel, torturador e
vingativo. Esse Deus é instável, psicologicamente insuportável, assustador
e traumatizante.
Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não desce do céu em
carros de fogo com milhares de anjos pra guerrear com um inimigo
imaginário. Muito menos financia guerras “santas”, Cruzadas ou uma guerra no
Iraque. Nem pede dinheiro para começar a agir ou realizar milagres.
Deus “batalha” com o diálogo, fatiga-se na dialética, transpassa a barriga
com uma palavra de amor, que rasga o corpo pela doçura de seu carinho.
Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não criou e
determinou tudo. Não deixou carmas, castas ou destinos. O Deus que creio
quer que façamos parte da criação, que sejamos colaboradores da construção da
história. Ele não tem um plano pra nós, mas faz do nosso um dos seus. Esse
Deus nos estimula a viver, a ser, a tornarmos, a transformarmo-nos em
protagonistas. Então, entra a chamada salvação e o céu. Ambos aqui
na Terra. Deus nos incentiva a vivermos uma vida “salva” aqui e agora e a
compartilhá-la. Uma vida cheia de princípios corretos e que a tornam
mais prazerosa e bela, de forma a trazer o céu para cá, para este
momento.
Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não se revela numa
só religião, numa só interpretação bíblica e muito menos só na bíblia.
Deus é muito maior que qualquer hermenêutica, cultura ou credo. O Deus
que creio se revela em qualquer um, em Buda, Maomé, Alá, deuses indígenas.
É encontrado num ateu, que faz doações, que vai à periferia, que visita
hospitais, não num evangélico que fica realizando milagres a torto e à direita.
O Deus que creio está para além dele mesmo.
Sinto decepcionar, mas o Deus que creio não tosa nossa vida,
não nos reprime. Creio em um Deus hedonista, que tem prazer nas pequenas
coisas e que sabe apreciar uma pipoca com refrigerante, um bom vinho com
queijo, uma cerveja com amendoim, um livro do Fernando Pessoa, uma música
do Djavan, uma conversa franca, um abraço sincero, um discreto sorriso ou um
simples olhar. Creio que Deus se manifesta nos deleites da vida e, por
isso, devemos vivê-la plenamente, e não ficar colocando cercas ao nosso
redor, com medo de “pecar”. Devemos abrir novos caminhos e apreciar o viver.
Sigo Rob Bell, “Viver é gozar do bom mundo de Deus”.
Enfim, estou cansado dessa visão rasa do evangelho, de Deus
e da vida. O Deus que creio é o(s) caminho(s) e quer nos fazer entender a vida
de forma mais pura, sensata e na sua essência. Ele não faz acepção de
pessoas, quer relacionar-se com todos nós, nos procura como estamos.
O Deus que creio decepciona a muitos. Graças a Deus!